Mensagem do Governador Euclides Vieira Malta - Cachoeira de Paulo Afonso

28/05/2017 00:15

ESTADO DE ALAGOAS

 MENSAGEM

DIRIGIDA AO

CONGRESSO ALAGOANO

PELO BACHAREL

EUCLIDES VIEIRA MALTA

GOVERNADOR DO ESTADO

Por ocasião da Instalação da 1ª sessão ordinária da 7ª legislatura em 21 de abril de 1903

Maceió

Typographia Commercial

M. J. Ramalho & Murta

1903

 

LIMITES DO ESTADO COM PERNAMBUCO

16

(...)

Acêrca dos limites entre este Estado e o de Pernambuco diz o ilustrado Governador do visinho Estado em sua bem elaborada Mensagem de 6 de Março último, enviada ao respectivo Congresso Legislativo: - “Está também por decidir a velha e debatida questão entre este Estado e o de Alagoas, cuja situação vos referi minuciosamente na Mensagem que vos dirigi em 11 de junho de 1901.” É de lamentar que estando essa questão agora dependente apenas do Governo deste Estado, conforme vos comuniquei em Mensagem dirigida em 6 de Março do anno passado, visto ter sido aceito pelo de Alagôas o alvitre proposto para a solução da questão, pese sobre Pernambuco a responsabilidade de não ter sido ella ainda resolvida.”

“Pende de vossa deliberação a autorização que solicitei para adoptar a respeito as medidas que fossem convenientes”. “Assim pois insisto nesse pedido cuja satisfação se impõe pela inadiável necessidade de pôr um termo a esse litígio por demais debatido e retardado.”

Devemos nos aparelhar para essa tão almejada solução; pelo que espero votareis os meios que já anteriormente vos solicitei, afim de se levar a efeito o alvitre lembrado pelo mesmo ilustre Governador em 28 de fevereiro de 1901 e por mim aceito em 28 de Março do dito ano.

TERRAS PÚBLICAS

O engenheiro, que contratou o serviço de medição e demarcação das terras do Estado em 31 de Março do anno passado, prossegue nos respectivos trabalhos.

Divididas ellas em lotes de 1 kilometro cada um, como ficou determinado n contracto tornar-se-á fácil a venda, arrendamento ou aforamento das mesmas terras.

Pelo relatório da Secretaria do Interior, onde se acham os demonstrativos e plantas dos trabalhos já executados haveis de ter minuciosas informações a respeito.

CACHOEIRA DE PAULO AFONSO

Ao inspirar-vos o anno passado a idéa do aproveitamento da força hydráulica da Cachoeira de Paulo Affonso, mal pensava se desfechariam contra ella e contra todos que filiaram-n’a os golpes da mais reprovada má fé, se não da mais deplorável ignorância em semelhante assunto.

Foi uma verdadeira campanha travada, valendo-me impropérios de toda a espécie, que despresei sempre cônscio da alta conveniência de dar quanto antes corpo legal à mesma idéa.

Duas razões actuaram em meu espírito, as quaes plenamente justificaram a autorização que vos solicitei e me concedestes, para poder contractar o alludido aproveitamento: uma, assentava no desejo de vêr bem definido e firmado o direito de domínio do nosso Estado sobre essa Cachoeira, que o seu mais majestoso monumento levantado pela natureza; domínio contra o qual mais de uma vóz se tem erguido sem fundamento algum. A outra razão visava o engrandecimento e prosperidade da nossa pátria, que hoje, como nunca, muito precisa de novas fontes produtoras afim de marchar impávida no caminho do futuro.

Que a Cachoeira de Paulo Affonso é nossa, afirmam a tradição a mais antiga e os documentos públicos entre estes a Geographia Geral de Pompeu de 1869 e a Alagoana do nosso conterrâneo, de saudosa memória, Dr. Thomaz do Bonfim Espíndola, de 1871, vejamos:

“O pequeno rio Moxotó, diz este, nasce na serra Araripe em Pernambuco, separa esta província da de Alagôas e depois de um curso de pouco mais de dez léguas desagua légua e meia acima da Cachoeira de Paulo Affonso”.

Diz Pompeu: “A província das Alagôas ao norte e noroeste limita-se com Pernambuco pelo riacho Persinunga, rio Una e seu confluente Jacuhype, serra pellada, rio de S. Francisco até o rio Moxotó, seu afluente, que desagua seis léguas acima da Cachoeira de Paulo Affonso”.

Por toda a parte admiravam-se simplesmente, até a pouco, as belezas naturaes desses caudaes, mas veiu a indústria encaminhada pela sciencia provar que as quedas d’aguas são muito mais uteis do que belas, inteligentemente aproveitadas.

Hoje a força hydraulica é uma fonte perene de riquezas nos Estados Unidos da América do Norte, na Itália, na França e na Suíssa, sendo certo que em outros paizes os governos e industriaes já estão ligando o maior interesse a este importante assumpto.

Os syndicatos se formam, já que só pela união dos capitães poderá emergir a força necessária para a utilização desse grande elemento de prosperidade publica e particular.

Eis porque não quis que o meu Estado se mostrasse mais retardatário em uma questão de futurosas consequências e agora, como no anno passado, devo assegurar-vos, são inabaláveis a minha convicção e a minha esperança a respeito do aproveitamento da Cachoeira de Paulo Affonso.